Conclusões

 

    Os novos aproveitamentos hidroelétricos licenciados e em construção, que foram aprovados pelo Governo na última década vão no seguimento das políticas energéticas europeias e mundiais, no que à redução do nível de emissões diz respeito. Apresentam características importantes para responder às previsões do aumento do consumo de energia elétrica, principalmente em períodos de ponta, e contribuem para a redução da fatura energética externa graças à diminuição das importações de combustíveis fósseis por redução do tempo de operação das centrais térmicas. Desse modo, a produção de energia através das fontes de energia renovável, como a hídrica e a eólica, será a aposta nos tempos que se aproximam para o mix energético do parque electroprodutor nacional. 

A produção de energia eólica em Portugal tem crescido na última década a um ritmo que nenhuma outra fonte de electricidade conseguiu. Os números atestam o disparo que a energia eólica teve em Portugal na última década. A energia eólica avançou demasiado depressa e por isso hoje temos um “mix” energético desequilibrado” que se deve a alguns erros que foram cometidos no passado e que se traduziram hoje em repercussões menos agradáveis na factura dos consumidores de electricidade. Não houve um cuidado em acompanhar mais prudentemente a curva de experiência dos investimentos, isto é, o País aceitou instalar uma quantidade enorme de potência eólica antes de a tecnologia amadurecer o suficiente para tornar os investimentos mais baratos e a respectiva remuneração baixar. Por outro lado, houve uma falta de atenção do Estado na gestão do andamento dos projectos, que permitiu que muitos parques eólicos demorassem anos a ser instalados, beneficiando, ainda assim, das tarifas mais elevadas concedidas anos antes. Devia ter ocorrido em Portugal uma correcção relativamente à remuneração, que é, aliás, o que se está a verificar agora por toda a Europa. 

No âmbito do combate às rendas da energia os actuais Governantes procuraram diminuir os custos futuros da energia eólica, firmando com os produtores um acordo mediante o qual eles pagarão uma contribuição anual (que será utilizada para diminuir o custo das eólicas para os consumidores), obtendo, em contrapartida, um período adicional de produção com tarifas protegidas (num intervalo de preço mínimo e máximo), além do prazo de 15 anos que cada parque tinha de remuneração garantida. 

O debate sobre os benefícios e problemas da aposta nas eólicas não é de hoje só de hoje e entre quem comenta o tema apresenta sempre argumentos recorrentes a favor como: as eólicas ajudam a reduzir as importações de combustíveis fósseis utilizados na produção de electricidade (carvão e gás natural), reduzem as emissões de dióxido de carbono do País e criam emprego (na construção dos parques eólicos mas, sobretudo, nas fábricas de componentes entretanto instaladas no País); e argumentos contra: as eólicas são intermitentes e não garantem segurança de abastecimento, grande parte dos equipamentos hoje instalados no País já foram importados e não produzidos cá, e, principalmente, são remuneradas com tarifas elevadas, numa factura a pagar pelo consumidor.

É inequívoco que as novas barragens e reforços de potência que foram, estão e vão ser construídos em Portugal durante a presente década vão servir essencialmente para armazenar a energia eólica excedentária em virtude do sobredimensionamento do parque nacional de aerogeradores, e pode verificar-se isto mesmo na memória descritiva do PNBEPH que é bem explícita relativamente a essa necessidade.

Nesses novos aproveitamentos hidroelétricos, para além dos equipamentos hidroeléctricos convencionais, está a recorrer-se igualmente à instalação de equipamentos reversíveis, tal possibilitará a sua intervenção quer quando a produção eólica é inferior à prevista quer quando ela é superior, utilizando-se nestes casos a energia eólica excedentária para bombar água para um reservatório superior, a qual será turbinada mais tarde quando as necessidades forem maiores e/ou a produção eólica for menor. Os aproveitamentos reversíveis operarão então como acumuladores de energia eólica. Assim, o aumento da potência eólica instalada deverá ser complementado com um aumento da capacidade hidroeléctrica, nomeadamente na vertente reversível, a qual deverá compensar a acentuada irregularidade da produção eólica, possibilitando ainda a bombagem da energia excedentária disponível durante o período nocturno de dias ventosos.

De acordo com a EDP, quando estas novas barragens estiverem concluídas em 2018 todo o conjunto de barragens do país vai produzir 17.900 GWh/ano brutos. Mas energia bruta é energia resultante da turbinagem de água "nova" e água bombada. A energia líquida (livre de bombagem) vai ser de apenas 13.300 GWh/ano. Isto significa que a bombagem vai recolocar nas albufeiras um potencial de 4.600 GWh/ano, isto é, uma potência média de 525 MW. Porém, como a bombagem tem um rendimento de 0,75, para repor este potencial hidroeléctrico a bombagem vai consumir uma potência média 700MW de energia eólica. No processo vão perder-se 700-525 = 175 MW. A potência média líquida das barragens constantes no PNBEPH é inferior a 200 MW que representa 3,3% das necessidades actuais (5.930 MW). Essa potência vai igualmente ser pouco superior ao consumo médio na bombagem. Efectivamente, a quantidade de energia eléctrica que as novas barragens vão fornecer depois de descontar o propósito da sua existência (armazenar energia eólica) é praticamente nula (200 - 175 = 25 MW em valores de potência).

O PNBEPH foi criado para dar corpo à expansão da energia eólica em Portugal. Quando estiver concluído o país vai ter uma capacidade anual de consumo em bombagem de 6.100 GWh (potência de 700MW) o que é mais do dobro da necessidade de armazenagem nacional (2,7 GWh). Esta bombagem pode ser economicamente lesiva para os consumidores e contribuintes portugueses pois as barragens vão consumir em alturas de excesso de oferta (preços baixos) e bombar em períodos de falta (preços altos). O restante terá de ser potencialmente consumido por veículos elétricos ou exportado a preços mais reduzidos. As barragens sem bombagem a construir só servirão, praticamente, para compensar o desperdício na bombagem das que estiverem equipadas com turbinas reversíveis.